07/06/2022
Uma das questões que mais preocupa os produtores brasileiros é se vai haver fertilizantes suficientes para a próxima safra de verão e a que custo eles chegarão ao mercado. Desde o início do ano passado, o complexo NPK (nitrogênio-fósforo-potássio) mais do que triplicou de preço e hoje representa cerca de 40% do custo de plantio. Era comercializado entre US$ 250 e US$ 350 e agora passa de US$ 1.300 a tonelada, impactando significativamente nos custos de produção.
O principal motivo da forte alta e da escassez são as crises geopolíticas que ocorrem em grandes países produtores desses nutrientes, sendo o maior impacto causado pela guerra entre Rússia e Ucrânia. O Jornal Cotrijal entrevistou o diretor de mesa de fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello, sobre o assunto. Ele explica o que vem acontecendo e traça um cenário para os próximos meses.
Jornal Cotrijal: Qual o volume de fertilizantes utilizado no Brasil?
Marcelo Mello: Somos o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo e o maior importador mundial. No ano passado, consumimos mais de 45,8 milhões de toneladas do complexo NPK, sendo 85% dessa demanda importada.
JC: Quais fatores levaram ao aumento dos preços e escassez de produtos?
Mello: Tivemos uma sequência de crises. Em 2020 e 2021, a pandemia causou um choque logístico imenso no mundo todo. Faltavam navios, contêineres, embalagens. Toda logística ficou comprometida e custo de frete cresceu muito.
A partir do ano passado, tivemos uma sucessão de crises que pioraram muito a situação. A Bielorrússia, país grande produtor de potássio, entrou em crise geopolítica. Na Europa, tivemos crises energéticas, impactando os custos de produção de nitrogênio e parte dos fosfatados.
Em 2022, a guerra entre Ucrânia e Rússia tornou o cenário ainda mais desafiador.
JC: Há possibilidade de falta de nutrientes para a próxima safra de verão?
Mello: No caso do potássio, se não tivermos a vinda de cargas da Rússia, por causa da guerra, e nem da Bielorússia, que vive um período de crise interna, perdemos 50% do fornecimento, ou seja, 6 milhões de toneladas.
No fósforo, também temos sérios problemas, porque a China, que é o maior exportador mundial, está com receio de voltar ao mercado, e a Rússia, terceiro maior exportador, está em guerra. Mas não dá para afirmar que haverá crise de escassez.
Em relação ao nitrogênio, apesar de a Rússia ser o maior produtor e exportador, não vai haver desabastecimento, porque temos fornecimento via países do Oriente Médio.
JC: Como o produtor se preparar diante desse cenário?
Mello: A situação é crítica, mas não significa que não vai haver plantio e fertilizantes. Nosso solo não é rico de origem como o dos Estados Unidos, mas aplicamos muito fertilizante todos os anos. Nitrogênio tem que usar todo ano, mas fósforo e potássio têm uma espécie de reserva. Estimo que a diferença entre oferta e demanda vai ser a ordem de 20% a 30% a menos no caso do potássio. Se todos fizerem o uso racional, não vai faltar. No caso do fósforo, mesmo que não viesse nenhuma carga da Rússia, responsável por 30% do nosso MAP, tendo uso racional, estimo que não faltaria.
E é fundamental o produtor neste momento estar muito próximo da cooperativa. Ela tem toda uma inteligência de mercado para lidar com essa situação, está muito bem posicionada e domina o assunto. Essencial que cada produtor antecipe suas compras e tente gerenciar de forma racional.
JC: Quais resultados esperar do plano que o governo brasileiro criou para aumentar a produção interna?
Mello: É um plano de médio a longo prazo. Os primeiros resultados, na melhor das hipóteses, serão sentidos por volta de 2030. Os resultados mais importantes, onde o governo pretende que nossa dependência externa caia para perto de 60%, estão previstos para 2050.
O plano estabelece metas interessantes, mas não está claro como atingir essas metas. Vai ser necessário muito trabalho, desde financiamento até viabilidade econômica. É razoavelmente simples fazer isso quando os preços internacionais estão muito altos, mas essa não é a realidade sempre. Até dois anos atrás, o preço estava mais baixo e era mais barato importar. Há uma série de questões envolvidas que precisam ser bem detalhadas, incluindo também licenças ambientais, desenvolvimentos novos, tecnologia.
Na avaliação do gerente Comercial Insumos da Cotrijal, Diego Wasmuth, a instabilidade no cenário de mercado mundial de agroquímicos, especialmente de fertilizantes, torna ainda mais importante o produtor fazer o adequado planejamento das próximas safras.
“É um ano de muitas dúvidas. Além das dificuldades no mercado internacional, temos ainda pela frente a instabilidade do câmbio, em função do ano eleitoral, mas estamos nos cercando de informações e investindo em estratégias para fazer o melhor pelo nosso produtor”, afirma.
A compra antecipada é o melhor caminho para garantir produto, segundo ele. “Essa é a prioridade da Cotrijal para o momento. Independente da questão preço, precisamos diminuir o risco de falta de produtos para a próxima safra de verão. Temos um grande percentual já comercializado”, informa.
Confira a reportagem completa no Jornal Cotrijal